DXCSF: Há quanto tempo é Dxista?
LVV: Sou Radioescuta e Dexista. Radioescuta desde que nasci, há 47 anos. Meu pai, José Luiz
Valladão, 74 anos, foi locutor por muitos anos em duas emissoras de ondas médias localizadas em
Três Corações e Guaxupé, ambas cidades mineiras. Eu não perdia nenhuma de suas locuções
estando acompanhado de minha mãe, Marli Silva Valladão, 71a, sua fiel ouvinte. Cresci nos
braços de uma verdadeira Radioescuta e um locutor saudosista e poético. O Dexismo veio mais tarde.
Quando quase me entendendo por gente, aos 10 anos, meu avô me apresentou seu rádio valvulado
com sintonia das ondas médias, tropicais e curtas. Aquilo não saiu da minha cabeça. Daí,
já estando com 28 anos em 1996 e sendo militar da área de saúde do Exército Brasileiro, fui
transferido para a cidade de Tabatinga, no Amazonas. Me lembrei dos tempos remotos junto
aos meus pais e meus avós e passando por São Paulo, capital, adquiri meu 1º rádio com ondas
curtas, um Sony ICF-SW55 e uma antena Sony AN-1 para me acompanhar naquela que seria a
primeira dentre as três jornadas amazônicas a que fui designado. Foi fantástico ouvir no meio
da selva emissoras como a Rádio "Guaíba" de Porto Alegre-RS.
A Rádio "Nacional do Brasil" Rádio Brás de Brasília-DF, transmissão para o mundo em várias
frequências no idioma inglês, alemão, espanhol e na língua portuguesa. Era o Brasil mostrando
a sua cara, mesmo com o noticiário maquiado. Acredito ter empolgado muitos de meus colegas a
comprar seus rádios receptores, pois eles ao ouvir a sintonia de emissoras de seus estados se
sentiam maravilhados.
DXCSF: Quais as emissoras que ouvia e qual marcou sua trajetória no início do hobby?
LVV: Eu monitorava dezenas de emissoras diariamente. A Rádio Nacional do Brasil (DF), R. Adven
tista Mundial Novo Tempo (Brasil via Costa Rica), Missão Apostólica da Graça de Deus (Brasil
via EUA), RAE R. de Difusão Argentina ao Exterior, R. HCJB A Voz dos Andes (Equador), R.
Havana Cuba, RCI (Canadá), WRMI R. Miami Internacional, WTWW (EUA), WEWN R. Católica
Mundial (EUA), WYFR Family Rádio (EUA), R. Voz da América (EUA), R. WSHB O Arauto da
Ciência Cristã (EUA), R. WINB Red Lion (EUA), R. Canal África (África do Sul), R. Cairo (Egito),
R. Damasco (Síria), RNA (Angola), R. Transmundial (Suazilândia), R. Atenas (A Voz da Grécia),
R. BBC (Inglaterra), RAI (Itália), R. Deutsche Welle A Voz da Alemanha, REE (Espanha), RFI
(França), R. Nederland, R. Romênia Internacional, R. Suíça Internacional, R. Vacana (Vacano),
RDP África (Portugal), Antena 1 (Portugal), Antena 2 (Portugal), Antena 3 (Portugal), RIC (China),
RDP Internacional (Portugal), R. Moscou A Voz da Rússia e NHK World Rádio Japão, FEBA (Far
East Broadcasting Associacion) e R. Seychelles (Ilhas Seychelles). Isto considerando as emissões
internacionais em português e língua portuguesa. Também ouvia dezenas de outras emissoras
nacionais e estrangeiras com transmissão em espanhol, árabe, inglês e outros idiomas por causa
das músicas diferenciadas que tocavam diariamente em sua programação. A emissora que me marcou
inicialmente foi a Rádio Inconfidência de Belo Horizonte-MG, por manter um estilo consistente,
decente e cultural. Um jeito peculiar de fazer do rádio, o seu
companheiro.
DXCSF: Das emissoras ouvidas no início do hobby qual programa lhe chamava atenção, a emissora
ainda está ativa?
LVV: "O Pulo do Gato" com José Paulo de Andrade, na Rádio Bandeirantes de São Paulo-SP.
Emissora ativa atualmente em 90,9 MHz, 840 KHz, 6090 KHz e 9645 KHz. O Programa é recordista
em permanência no ar com as seguintes características: mesma emissora, mesmo horário
e mesmo locutor há mais de 40 anos (desde abr/73). Com conteúdo crítico das situações cotidianas
do povo paulistano e brasileiro de um modo geral, nesta auditiva aprendi a ser crítico e
lutar pelos meus direitos. O programa vai ao ar de 2ª a 6ª feira de 05:30h às 10:00h da manhã
no horário vigente em Brasília.
DXCSF: Na atualidade qual a emissora que mais ouve e o programa que participa?
LVV: A emissora que mais ouço é a RAE, Rádio de Difusão Argentina ao Exterior, emissão em
Português às 12UTC e às 24UTC de 2ª à 6ª feira. Tenho participado de programas em outras
emissoras como a Rádio Havana Cuba, "O Mundo da Filatelia", que envolve pesquisa de selos
colecionáveis e a NHK World Rádio Japão, através do programa "Ponto de Encontro", onde se
lê correspondências impressas ou eletrônicas dos ouvintes e são veiculados vários eventos onde
se pode participar.
DXCSF: Já participou nas emissoras sendo entrevistado, qual ou quais e que ano?
LVV: Sim, fui entrevistado algumas vezes por emissoras nacionais. No entanto emissoras internacionais
somente pela Rádio Japão. Foi uma entrevista para edição comemorativa dos 60 anos
de transmissão na língua portuguesa que ocorreu em 2013. Há previsão de ser entrevistado pelo
serviço brasileiro da Rádio Cairo, Egito, nos próximos dias em fevereiro/2015.
DXCSF: Qual a emissora que ouviu e que achou que foi a mais difícil de escutar?
LVV: Foi a Rádio Municipal de São Gabriel da Cachoeira, no estado do Amazonas, que está em
atividade em 600 KHz e 3375 KHz. A Emissora opera com menos de 1 KW. Em 1997, estando no 1º
Pelotão de Fronteira Palmeiras do Javari, um destacamento do Exército situado às margens do
Rio Javari, próxima à FARC (Força Armada Revolucionária da Colômbia) numa região chamada de
três fronteiras pois faz divisa com o Brasil-Peru-Colômbia e à 300 Km da emissora, consegui
ouvila durante o início da noite nas duas frequências e com mesma intensidade de um sinal
razoável e sem interferências. Infelizmente não dispunha de meios para gravar naquele destacamento.
Hoje eu sinto falta daquela audição com apresentações de bandas locais indígenas na emissora e com
ritmos locais como o forró kishimauara, que hoje chamam de forró amazônico e teve sua origem em São
Gabriel da Cachoeira-AM.
DXCSF: Qual a sua opinião em relação às emissoras que abandonaram e das que estão
pensando em abandonar as Ondas Curtas?
LVV: Os governos dos países estão querendo economizar e muita gente não sabe que a
manutenção das instalações, do sinal de transmissão e funcionalismo demanda muito dinheiro
e infelizmente estamos em tempos de recessão mundial e o corte de gastos é necessário. O
que afeta diretamente os órgãos públicos e a rádio difusão governamental em primeiro plano.
Triste solução e alguns governos tem repensado a decisão de parar, pois reflete no turismo e
relações internacionais. O Brasil infelizmente há mais de 4 anos, se é que me entendem, não
tem se importado com as amizades em suas relações internacionais. Tal atitude desestimula
transmissões radiofônicas, contato entre os povos e contribui para a baixa da estima pelo outros
países. Resulta no desligamento de transmissores. A começar pelos países onde sequer
recebem uma transmissão no seu idioma, pois sugere desinteresse de nossa parte, mas na verdade
é da parte do governo brasileiro. Por que eles iriam transmitir pra nós? Por submissão e
implorando para irmos lá fazer turismo? Por um retorno que nunca virá? Não os culpo.
A má gestão das comunicações no Brasil na última década contribuiu sobremaneira na decadência
das emissões internacionais. O Brasil é um influente e ao liderar a retirada das transmissões
certamente influenciou que outros deixassem de transmitir também. Por outro lado, quem
pode tirar proveito disto, se houver união, são as emissoras nacionais devida a menor interferência
pela ausência do sinal de transmissão estrangeira. Porém, como militar, percebo a manobra
estratégica do governo para que não haja uma comunicação livre e independente pelo
interior do país. A ideia tem sido criar mecanismos para dificultar o acesso a informações independentes
e a médio prazo a imprensa ser totalmente controlada, como na ditadura, porém
por leis que o povo acredita serem melhores e não são. Uma lástima. O assunto é muito extenso
e me cabe aqui apenas deixar registrada a minha indignação, pois cidadãos puros de coração
que almejam união, crescimento intelectual, socialização e efetivamente um país melhor e integrado
não poderia conduzir as coisas como estão sendo feitas. Não há incentivo fiscal algum
para o reaparelhamento de emissoras comerciais, quanto mais estatais que só dão despesas e
o governo não quer elas informem nada e deixem o povo cego, surdo e consequentemente
mudo.
DXCSF: As novas tecnologias realmente vieram para dar um fim às ondas do Rádio de um
modo geral, qual a sua opinião?
LVV: Vai demorar muito tempo para superarem o rádio, pois a conexão com a internet ainda
não atende as necessidades populares e indústria está dividida pela dificuldade em suprir a
todos com uma produção que não tem saída nas vendas. Taxistas, caminhoneiros, usuários de
aeronaves, embarcações, operários da construção civil, homens do campo e tantos outros que
se fosse citar aqui descreveria em muitas páginas iriam ficar sem ouvir nada. Esse pessoal representa
uma fatia de mercado de consumo muito importante que não foram esquecidos e
barra a total extinção da radiotransmissão por ondas hertzianas. A solução não virá a médio
prazo pelo custo. Até então nada foi inventado que pudesse ser comercializado facilmente como
o rádio convencional e vender informação e produtos em qualquer local que esteja a baixos
preços, para finalmente continuar a manter a audiência hoje estabelecida. Duvido do futuro
da DRM e outras tecnologias. Não tem saída comercial para que justifique investimentos,
pois o Brasil é pobre em sua maioria. Vão virar sucata antes do fim do rádio analógico. Anotem.
DXCSF: Os eventos (concursos) que o DXCSF vem realizando qual a sua opinião?
LVV: São de extrema importância para que se mantenha acesa a chama da Radioescuta e do
Dexismo. Os mecanismos que unem os apreciadores da radiodifusão não são muitos e os Clubes
formados pelo país devem se unir para trocar informações, facilitar o contato entre seus
integrantes e assegurar o futuro do rádio de forma organizada e bem direcionada. Com certeza
absoluta o DXCSF está no caminho certo.
DXCSF: O que é o hobby do dexismo (dxismo) pra você?
LVV: É a prática constante e fiel de pesquisar através das ondas sonoras do rádio receptor em
busca de novas transmissões e do monitoramento de transmissões conhecidas.
DXCSF: Já participou de eventos dexistas?
LVV: Infelizmente ainda não, pois não havia fixado residência até o presente momento.
DXCSF: Já visitou alguma emissora internacional?
LVV: Tenho pretensões e dois convites. Falta $tempo$. Tenho vontade de visitar a RAE em Buenos
Aires, um sonho mais fácil de conseguir. Gostaria de agradecê-los pessoalmente por tocar
nossa MPB consagrada em sua grade de programação. Feito que, garanto, o Ministro da Cultura
não sabe. Transmissões em português que, garanto, o Ministro das Comunicações não sabe.
Pra mim é uma vergonha perceber que o Brasil está nas mãos erradas.
DXCSF: Quantos países confirmados? Quantos QSL's?
LVV: Tenho confirmado a recepção de 55 federações.
DXCSF: Coleciona alguma coisa?
LVV: Coleciono rádio receptores digitais portáteis e antenas portáteis. Possuo várias unidades
da Sony, da Tecsun, da Sangean, da Degen e outras marcas. Como souvenir guardo o material
recebido das emissoras das quais contactei. São calendários, panfletos, camisetas, cartões postais
e e-mails.
DXCSF: Algo mais que desejas informar?
LVV: Se a grana estiver curta, compre um rádio analógico. Se tiver uma reserva compre um digital.
O Mercado Livre oferece centenas deles. É seguro, já comprei vários por lá e também no
Ebay.com direto da China e no Amazon.com direto do EUA. Infelizmente, a indústria nacional
não oferece o que precisamos. Deixo aqui duas sugestões: 1) rádio portátil "Tecsun PL-660" com
OL, OM, OT, OC, USB/LSB, Air Band e FM estendida e 2) som automotivo "Pioneer DEH-X66-
80BT" com CD, MP3, AM, FM, SW (ondas curtas), USB e Bluetooth.
Gostaria de agradecer pelas
iniciativas tomadas pelo DXCSF, que tem fortalecido o movimento em prol do rádio em especial
às ondas tropicais e curtas. Aos associados, por estarem buscando unidade para permanecermos
ativos pesquisando e ouvindo nosso querido rádio. A você, que lê este informativo buscando sua
interação e intercâmbio. Continuemos juntos. Aproveito o ensejo para convidá-los a entrar em
contato com as emissoras para confirmar sua audiência pelo rádio, seja pelo correio postal, por
telefone, por e-mail ou facebook, em prol da permanência das ondas tropicais e curtas. Assim
tenho feito. Forte 73, cordialíssimo ao DXCSF, aos colegas associados e todos os leitores.